Neste primeiro episódio, iremos explorar as origens do gênero Boy’s Love (BL). Vamos investigar como ele se inseriu na indústria do entretenimento e se tornou um fenômeno global. Além disso, também buscamos abordar a evolução desse gênero e as principais
características que definem suas histórias.
Para participar desse debate, convidamos o Anderson Lopes, um brasileiro que mora e trabalha na Tailândia como professor universitário. Anderson foca seus estudos em investigar como as pessoas do Brasil recebem e consomem séries tailandesas, mais especificamente, os dramas Boy’s Love.
Que BL eu seria?
He’s Coming To Me; Bad Buddy; 2Gether.
Não imperialize!
Pedaço de mim (série); Cangaço Novo (série); Ice Cold: O Caso Jessica Wongso (documentário); Rádio Novelo: Apresenta (podcast); Quanto Vale Essa História (podcast); Parasyte: The Grey (série).
Eita, me perdi no personagem!
Bodies (série); The Bear (série); Starstruck (série); Fallout (série).
🎙️ Episódio apresentado por:
@moataliba
🎶 SOM DE TELEFONE TOCANDO 🎶
[MATHEUS] Alô, aqui é Matheus. Quem é que liga?
[MARIANA] Oi, migs! Vamos bater um pop? Não, quero dizer, vamos bater um papo sobre pop?
[MATHEUS] Bora! Não precisa nem falar duas vezes.
🎶 MÚSICA DE ABERTURA TOCANDO 🎶
[MARIANA] Então, para quem caiu nesse podcast de paraquedas, eu sou mariana machado
[MATHEUS] E eu sou Matheus Ataliba
[JUNTOS] E somos o BatePop (SUSSURANDO)
[MATHEUS] Esse primeiro episódio do podcast é bem especial, sabe porque?
🎶 SOM DE TAMBORES RUFANDO 🎶
[MATHEUS] Por que ele é o meu TCC!
🎶 SOM DE TROMPETE TRISTE 🎶
[MARIANA] Pera, vou fazer o papel de anunciante do youtube… NÃO PULE ESSE PODCAST!
[MATHEUS] Apesar de servir como meu TCC, não vamos usar termos acadêmicos super complicados.
[MARIANA] EU JURO QUE É UM PODCAST NORMAL!!
[MATHEUS] Eu sei, olhando assim não parece um TCC muito convencional, né? Mas foi a forma mais divertida que eu encontrei para me darem um diploma de bacharel em Estudos de Mídia.
[MARIANA] E finalmente, veio aí né? Porque já estamos há anos para lançar esse podcast!!
[MATHEUS] Ainn, nem me fale! Estava quase sendo jubilado (e nem é meme).
[MARIANA] Mas fala pra gente… qual o tema do seu TCC?
[MATHEUS] Ah, sobre BL,né Mariana? Tá no título!
[MARIANA] Tá, Matheus! Mas o que é BL? Explique para quem está nos ouvindo (principalmente para a sua banca, né! Que vai te julgar… sem pressão)
[MATHEUS] Então, BL é a sigla para “Boys Love”, que na tradução literal seria algo como “Amor entre meninos”.
[MARIANA] Ah, tipo Heartstopper?
[MATHEUS] Apesar de também ser uma história de amor entre meninos, Heartstopper não é um BL pq o conceito de BL é um fenômeno cultural característico de alguns países do leste e sudeste asiático. Assim como, os K-dramas que são produções específicas da Coreia do Sul.
[MARIANA] Mas nós vamos falar sobre os BLs de todos esses países?
[MATHEUS] Não! O foco aqui são os BLs da Tailândia, mais especificamente as séries para TV, porque também existem outros formatos… como as novelas gráficas, os mangás, os filmes… e por aí vai…
[MARIANA] Mas não seria melhor chamar alguém com mais vivência para falar sobre esse assunto?
[MATHEUS] Cara, já sei até quem chamar! Vou ligar para um amigo meu…
🎶 EFEITO DE TELEFONE DISCANDO E CHAMANDO 🎶
[ANDERSON] Oi gente linda, como vocês estão?
[MATHEUS] É isso mesmo!! Para falar com propriedade, estamos hoje com um convidado muito especial, diretamente da Tailândia! Seja muito bem-vindo, Anderson!!!
[ANDERSON] Eu agradeço demais o convite! É um prazer muito grande poder discutir assuntos da cultura pop… De coisas que fazem parte do cotidiano da gente. Ainda mais agora nessa nova reformulação, Ásia e a América Latina cada vez mais próximas.
[MATHEUS] O Anderson é um brasileiro que mora e trabalha na tailândia como professor universitário… Mas porque convidamos ele para esse episódio? Justamente porque ele investiga como as pessoas do Brasil recebem e consomem séries tailandesas, mais especificamente, os dramas Boy’s Love.
[MARIANA] Então, Anderson… Seja bem-vindo!! Antes de começarmos… se apresente um pouco mais para quem está nos escutando?
[ANDERSON] Eu sou brasileiro morando aqui na Tailândia há um ano e meio, mais ou menos, um ano e dois meses, um ano e três meses, às vezes eu falo um ano e meio porque é mais fácil fazer as contas. Eu morava no sul do Brasil, depois de um período eu fui para o Sudeste, para São Paulo. Estudei comunicação a minha vida inteira. Os meus interesses de trabalho sempre foram voltados para pensar cultura popular, desde a perspectiva da TV, por exemplo, das séries, das telenovelas… E hoje eu sou professor, trabalho com os conteúdos de cultura pop na América Latina, meios de comunicação, cinema, estudos latino-americanos e gênero.
[MATHEUS] Então, Anderson… Pra quem está ouvindo a gente agora e não faz ideia do que é o gênero BL… Conta um pouco mais sobre como esse fenômeno surgiu e tem conquistado cada vez mais audiência e reconhecimento no cenário global.
[ANDERSON] Então, se a gente pudesse falar de uma maneira bem breve para alguém que nunca ouviu, não tem ideia, e ver, sei lá, uma galera nas redes falando, “ah, BL, BL…”, o que seria BL? Pensando em BL audiovisual, por que já já a gente vai falar da novela gráfica, das histórias escritas, de outros processos. Mas, enfim, pensando o BL como série. São séries onde os personagens principais têm um relacionamento homoafetivo e, por isso, são dois rapazes que se amam, são dois homens que se amam. O foco delas são romances, são relacionamentos afetivos. É tão simples e tão diferente ao mesmo tempo, porque aqui, quando a gente fala de BL… A gente nem usa essa nomenclatura “BL”. Na Tailândia as pessoas chamam de serie-y, “séries Y”, porque tem a ver com a origem das narrativas de BL. Antes de ser uma série audiovisual, de ter a galera ali na sua televisão, no seu celular, no seu computador, atuando, essas narrativas já existiam, narrativas de amor entre rapazes. Aqui na Ásia, nos anos 70, especificamente no Japão, teve um boom, um estouro de histórias, pra gente “histórias em quadrinhos”, mas não é histórias em quadrinhos, tem mais uma especificidade, mangás, que contavam essas histórias de amores entre rapazes. Mas que rapazes? Geralmente rapazes estudantes, pessoas que estavam no nível universitário e gente muito bonita. Mesmo no desenho, os traços representam rapazes dentro de um padrão estético muito lindo. Essas narrativas de mangá receberam o nome yaoi. E esse “Y” do comecinho, meio que até hoje marca, aqui na Tailândia, esse tipo de série. Por isso que eles chamam séries Y, serie-y, porque são séries que estão vinculadas a essas narrativas de yaoi, de ter como parceiros principais rapazes que se amam. Por que eu disse que é simples? Porque a gente tem, no Brasil, novela, por exemplo, séries onde vai ser sempre a parceira… e parceiro, o homem e a mulher. Para nós isso é claro, mas quando a gente inverte uma pecinha dessa trama que é justamente colocar não uma mulher e um rapaz, mas dois rapazes, já começa a dar um tilt na cabeça de algumas pessoas. Veja que curioso.
[MATHEUS] Cara, exatamente! Foi uma loucura na minha mente quando eu comecei a ligar esses pontos. Porque em um primeiro momento eu fiquei em êxtase pensando que a tailândia era um país incrível, sem preconceito, “pra frentex” e tals… Já que ele é referência em cirurgias de redesignação sexual, foi o primeiro país a ter uma franquia de Rupaul’s Drag Race e estava produzindo narrativas de garotos se amando de forma linda. Mas aí eu comecei a pesquisar mais um pouco sobre a história do gênero e as nuances por detrás dos bastidores e fiquei… “Que? Como assim?”
[ANDERSON] Exatamente, Matheus! É fascinante a configuração dessas narrativas, que para mim também me deu um tilt no começo. Nas primeiras vezes que eu tive contato com narrativa de BL, com história de BL, eu pensei: “ah, são histórias de dois rapazes se beijando, logo, são histórias feitas para homens, certo? O público é um público gay.”
[MARIANA] É interessante que todo mundo que assiste BL fala a mesma coisa! Todos foram tapeados…
[ANDERSON] Por isso é importante estudar a história do gênero yaoi, dessas construções, das novelas gráficas, dos mangás japoneses. O público que ia receber, que ia consumir essas narrativas, é um público feminino, já era um público feminino. Quando essas narrativas chegam aqui na Tailândia, continua com o público feminino. Quando isso se torna uma série, ou a gente tem até hoje filmes, o público final é um público feminino. Quer dizer que não tenha rapazes, que não tenha homens que se interessam? Não, óbvio que tem. Mas o chamariz é o público feminino. E é aí que pode pensar, quem tá ouvindo a gente, mas por que isso? Por que uma série que tem dois caras se pegando, bem grosso modo, claro que a série é mais do que isso. Mas por que isso interessaria meninas, mulheres?
As mulheres estão muito presentes no processo da produção das histórias, especialmente aqui na Tailândia, para chegar a nascer uma série BL, em grande parte agora a gente começa a ter roteiros originais, ou seja, histórias de séries que foram criadas para as séries. Mas a cultura da produção de BL na Tailândia, ela se dá pela adaptação de livros. Sabe? De romances, de novelas. E quem escreve essas histórias? Mulheres. E de volta, público, feminino. E quando você transporta, você traduz isso para séries, continua ainda o público feminino.
[MARIANA] Ok! A gente já definiu basicamente que BL são séries melodramáticas centradas em relacionamentos homoafetivos. A próxima pergunta é: onde essas histórias se desenrolam? Existe algum padrão narrativo?
[ANDERSON] Aqui até pode ter uma cena externa ou outra, mas grande parte dos BLs mais tradicionais se passa no ambiente universitário, se passa nas universidades. E a parte mais interessante é, essas narrativas no plano da ficção, elas quase sempre são localizadas no espaço urbano. Na cidade, cara, você não vai ver muitas narrativas de BL em ambientes rurais. Pode ser que um momento ou outro da história, a galera vá pra uma montanha, vai pra uma praia, uma coisa assim. Mas as histórias quase todas vão se passar, por exemplo, em Bangkok, né? Vão passar na cidade. E aí é uma pergunta, né? Por que? O mercado entende, o mercado de produção de BL, né? Das narrativas, ele entende que os espaços de consumo, onde a galera vai investir grana pra ir num evento… Para ver os atores, que vão comprar merchandising, que vão comprar tudo de produto licenciado, são nas áreas urbanas e nas áreas de maior concentração de grana.
[MATHEUS] Anderson, mudando um pouco de assunto… Eu já vi várias pessoas, até mesmo da comunidade, criticando os BL’s por serem “pouco queer”… O argumento que utilizam é que essas narrativas são alienáveis e não retratam a verdadeira realidade das pessoas da comunidade, gerando falsas expectativas em quem está assistindo. O que você acha disso? Porque eu não vejo o mesmo tipo de comentário para narrativas de romance heteronormativo, por exemplo.
[ANDERSON] Sabe o que eu fico pensando? É válido. Toda crítica, cara, que a gente bota, né, o pensamento da gente para olhar as coisas de uma maneira mais crítica, se observar com cuidado, é válido. Pow, faz parte, né? A cultura pop não é só entretenimento. Cultura pop também é reflexão, também é crítica, também é pensar sobre eu e o outro, né? É total, cara. Se não fosse isso, a gente não estaria aqui discutindo cultura pop, por exemplo. Essas narrativas são muitas vezes criticadas por serem heteronormativas, por exemplo, ou “pouco queer”. Eu adoro essa expressão, “pouco queer”. Elas são tão queer quando elas deveriam ser. E eu sempre fico pensando, de onde é que vem a origem da crítica? Quem faz essa crítica? Porque, como a gente que está aí do outro lado do mundo, sabe? América do Sul, América, Europa e tal, Estados Unidos, olha pra Ásia, ou não só pra Ásia, né? Pra esse “oriente”, pra esse “extremo oriente”, e cria uma imagem de como o japonês é, de como o sul coreano é, de como o tailandês é, e a gente acha que essa criação de imagem é um reflexo total da realidade. Cria-se uma imagem cristalizada, né? “Não, claro. O japonês vai ser sempre, sempre, sempre educado, nunca vai falar alto, o tailandês vai sempre, sempre sorrir”, e você fala, tá, não, você não encontra isso na realidade. Mas o que eu quero chegar nesse ponto é, as críticas, às histórias de BL que começam a falar que elas são um desserviço, por exemplo, muitas vezes partem desse olhar orientalista, desse olhar do estereótipo, de achar que se uma narrativa não coloca como centro dela: “o fulano sofreu porque ele é gay, ou porque ele é bi, ou porque ele é isso, aquilo ou outro e a gente tem que ir pra rua, e a gente tem que queimar a carro”. Cara, isso não faz parte dos processos de cultura, ou inclusive dos processos de liberação de luta por direito da comunidade queer aqui, da Tailândia e de muitas áreas da Ásia. Quer dizer que por isso eles são inativos? Que por isso eles são paspalhos? Que ninguém luta pelos direitos? Claro que não! Quer dizer que a forma de você discutir gênero… A forma de você chegar nesse centro dessa questão é outra forma. Então eu sempre falo, é válido criticar, perfeito, bora criticar, mas olha a origem das críticas. Porque muita gente que critica BL, por exemplo, adora outras narrativas que têm personagens do mesmo gênero se amando, que são feitas pelos Estados Unidos, pela Europa, que seja, e muitas vezes são péssimas essas histórias. Mas a galera nunca vai criticar desde essa perspectiva de que não é tão queer assim.
[MATHEUS] Exatamente, e não somente isso! Se a gente for observar o tipo de “produção queer” que esses países estão produzindo… são universos repletos de dor, tragédia e sofrimento que não apresentam nenhuma perspectiva de final feliz para as pessoas da comunidade.
[MARIANA] Pois é, tem até um termo para isso né… o “Bury your gays”, ou seja, “enterre os seus gays” porque foi observado que existe uma propensão muito grande desses personagens serem mortos precocemente nessas narrativas, eles são considerados descartáveis em relação aos personagens heterossexuais.
[MATHEUS] Exato, olhando por esse lado, eu observo que as narrativas de BL trazem conforto e leveza para pessoas que comumente têm suas vivências retratadas com violência no audiovisual.
[ANDERSON] A gente chama isso de universos possíveis, mundos possíveis. Imagina, você morar num país como a Indonésia, que faz parte aqui do sudeste asiático, ou você morar num país tipo Brunei, que também faz parte aqui, onde liberdade de expressão, sendo uma pessoa queer, sendo uma pessoa gay, sendo uma pessoa da comunidade LGBTQIA+, essa liberdade é cerceada todo dia. Imagina você chegar na sua casa, poder ligar o seu computador e assistir uma série onde mostra o amor entre dois rapazes num país vizinho ao seu e sonhar com isso. Eu não tô falando nem do Brasil, cara. Tô falando aqui, rolê ao lado dos países. Cê entendeu? Isso já é muita coisa. Como eu posso olhar pra uma série e falar: “ah, isso aqui é esse tipo de produção é um desserviço”? Desserviço pra quem? Como? De que ponto de vista que eu tô analisando? De que lugar eu tô falando isso?
A gente tem no Brasil um segmento da nossa indústria criativa, um ramo da nossa indústria televisiva de streaming, que é focado na produção de séries que tenham casais do mesmo gênero como algo natural? Esse é o ponto de diferença. Então, bora produzir as nossas próprias e mostrar qual é a grande maneira de discutir a cena queer? A gente não está nem produzindo, cara. Nesse nível de segmento da indústria cultural, focada somente em séries com personagens, nesse caso gays, mas se a gente fosse falar de girls love, de narrativas sáficas, narrativas com meninas que gostam de meninas, a Tailândia e a Ásia saem na frente de volta.
[MATHEUS] Nós estamos aqui falando sobre as produções da Tailândia, mas sabemos que existem outros países que também produzem séries televisivas do gênero Boys Love. Você sabe nos dizer quais são atualmente? E nós podemos afirmar que a Tailândia é o principal produtor e exportador desse gênero?
[ANDERSON] Hoje, a Tailândia é o maior produtor desse mercado pensando em séries. Hoje, por exemplo, fora da Tailândia, o país que mais consome BL tailandês é o Japão. Olha que loucura! O país que originou a criação do gênero yaoi é o país que mais importa as séries de BL da Tailândia. Mas pensando em países produtores, a gente tem Coréia do Sul como uma emergente muito forte, porque já eram, obviamente, conhecidos pela onda coreana, a Hallyu Wave, das narrativas de K-drama, dos dramas coreanos, só que na Coréia tem uma questão bem pontual, que é a dificuldade de produzir narrativas queer num país majoritariamente cristão, que é algo que a gente não tem aqui na Tailândia, que é um país de maioria budista. E a relação entre budismo e gênero é bem diferente da relação de cristianismo e gênero. Então a Coreia do Sul é um país também na liderança cada vez maior. Taiwã, se a gente fosse olhar para a Ásia e ver um país que é realmente um país onde legalmente falando de lei, falando de vida pública, de política pública, a população queer tem mais liberdade e mais garantias de direitos, hoje esse país seria Taiwã, porque é o país que até hoje é o único aqui do leste asiático, não sei se da Ásia inteira, mas do leste asiático e do sudeste asiático, com garantias de direitos constitucionais, está na lei para a população queer. Então dá para você entender porque que eles são também grandes produtores de narrativas de BL. Tem ali um vínculo com a própria população local. China tentou e viram que dava certo. Só que para você fazer um BL que dá certo, você tem que apresentar básico, spoiler. Você tem que apresentar personagens homens que gostam de personagens homens. Isso obviamente não foi bem visto por China, no sentido do governo, e a censura caiu forte e hoje a gente pode contar nos dedos, né? Narrativas de BL que vieram da China e que chegam até a gente.
[MATHEUS] Então, você mencionou a questão da China, e isso me fez lembrar de algumas emissoras que acabam censurando essas histórias. E, por isso, transformam tudo em um bromance… tudo fica no sigilo, né?
[MARIANA] Inclusive a gente também consegue observar isso com frequência no Brasil, né? As novelas da TV Globo andavam tendo alguns avanços em relação a representatividade LGBTQIA+, mas de uns tempos para cá a censura de cenas de casais homoafetivos têm se tornado muito frequente. Eu lembro que Vai na Fé teve incontáveis cenas de afeto entre casais de homens e de mulheres que foram cortadas de forma abrupta. Cenas que foram roteirizadas, filmadas e na hora da exibição do capítulo, cadê? Acredito que a faixa horária que ela foi exibida influenciou isso, as novelas das 18h e das 19h não podem “ousar” nesse sentido (ousar entre muitas aspas porque um beijo gay não deveria ser visto como um ato de ousadia). Então no fim das contas temos uma produção que não economiza nas cenas românticas de casais heterossexuais e os casais homoafetivos não parecem passar de grandes amigos que fazem tudo juntos, menos se beijar.
[ANDERSON] É que nas narrativas de BL, ainda que não seja explícito, ainda que muitas vezes o tema não seja colocado abertamente: “eu sou uma pessoa gay que gosta de uma pessoa gay”, as pessoas se beijam, elas demonstram afeto. Muitas vezes as narrativas de bromance ficam subentendidas por um olhar, ficam subentendidas porque alguém dormiu na casa de alguém. Não se explicita que esse amor existe, ainda que ele seja um amor talvez proibido. E nas narrativas de BL não. “Boy’s love”: o amor já está no próprio nome. Eles demonstram esse amor à sua maneira, à sua forma, mas isso é demonstrado. E é esteticamente bonito, especialmente porque isso mostra como é possível representar nesses mundos possíveis amores entre rapazes, da mesma forma como a gente representa amores heterossexuais. Numa novela nossa, por exemplo, é algo subententido… um beijinho com a silhueta e o sol tapando tudo. Vocês se lembram, né, gente? Se a gente quiser falar de amor à vida, por exemplo. Primeiro, com muitas aspas, esse primeiro, porque a gente sabe que já tiveram outros, mas enfim. Do grande beijo gay, na telenovela brasileira e tal, é tudo meticulosamente feito para parecer artificial, cara.
[MARIANA] Anderson, você tinha comentado que a maioria dessas produções são ambientadas em espaços universitários, mas outro padrão que nós percebemos foi a predominância de narrativas mais clean, ou seja, focando apenas no romance. Só que nas últimas produções eles estão apostando mais nas cenas hot. Você sabe o porquê dessa transição?
[ANDERSON] Cara, vamos ter que voltar um pouquinho no tempo para tentar explicar isso. Nos anos 2000, quando as narrativas de BL, sem ser série, pensando mesmo romance, texto, tinham uma censura institucional do Estado, até o ponto que o governo saca… governo sempre atrasado, mas eu digo assim… pra perceber as coisas, até o ponto que o mercado já bem mais rapidamente saca que isso gera um grande faturamento e tal, e a partir de 2014, por exemplo, é quando tenta-se demarcar a primeira série de BL da Tailândia, que seria ‘Love Sick: The Series’, né? Só que um pouquinho antes, em 2013, a gente teve uma série chamada Hormones, tipo “hormônios”, que era uma série bem estudantil, tal, se passava na escola, que já dava conta um pouquinho de romances entre meninos. mas ainda bem puritano, digamos assim.
Por que eu estou dando esse exemplo? Porque na grande parte da primeira leva das produções de BL, aqui na Tailândia, elas foram bem do campo homoafetivo, da limpeza, do puritanismo, bem mais reservado. Até porque, culturalmente, você não beija as pessoas. Um casal não beija outro casal. Não precisa ser um casal gay. Um casal hétero não vai se beijar na rua, porque é algo muito bizarro aqui. E pra gente já é outra história. E quando a gente começa a arriscar e mostrar o corpo na tela, quando eu digo corpo, é o corpo como potência. É o corpo que beija, é o corpo que respira ofegante, é o corpo que se atraca com o outro corpo. Aí a gente começa a falar da narrativa de BL como homoerótica. Porque começa a se perceber que essas séries, elas geram prazer, um prazer estético, um prazer visual, e muitas vezes um prazer sexual.
[MATHEUS] Como a população tailandesa e o mercado de entretenimento na Tailândia enxergam e reagem ao gênero BL? Existe algum tipo de aceitação ou resistência significativa por parte do público ou da indústria?
[ANDERSON] Esse é um assunto complexo. Eu vou tentar resumi-lo da seguinte maneira. Para você ter ideia, as séries BL na Tailândia são consideradas boas, porque elas estão gerando muita grana e muita visibilidade para o país. Mas, por exemplo, vamos fazer uma comparação? Malhação, que não tem mais, e novela das oito. Se a gente compara bem no senso comum, Malhação, novela das nove, novela das oito. O que teria mais qualidade? Novela das nove, certo? Malhação, a galera vai falar: “nossa, parece ator de Malhação”. Isso já significa alguma coisa. Aqui, as séries BL não são consideradas assim, não é nem horário nobre, eu quero dizer de… de a obra que eu gostaria de fazer, ou de a obra que eu gostaria de participar como ator, como artista, não é considerado o primeiro e mais nobre porque o primeiro e mais nobre são as novelas da Tailândia. E na Tailândia as novelas são Lakorns. Os Lakorns, sim, com seus personagens heterossexuais, ricos, super melodramáticos, isso é o topo do topo. Por isso que muitos atores que começam com narrativas BL, quando eles conseguem um papel num Lakorn, numa novela, o mudo gira porque ele sai de um nicho, entre aspas, e de um produto que muitas vezes é secundarizado em termos de qualidade para algo que é paixão nacional. Então isso é algo que a gente talvez não tenha muita noção no Brasil. A gente pensa que BL aqui é a narrativa mais consumida e a narrativa principal de todos os lares. E nem sempre, sabe? Nem sempre vai ser. As pessoas, inclusive, criticam muito a atuação dos atores de BL aqui. Do mesmo jeito que a gente fala com, obviamente, uma carga depreciativa bem pesada. “Nossa, parece um ator de malhação, ou “parece alguém iniciante”. Aqui também, às vezes, tem um pouco disso, sabe?
[MARIANA] Nós fizemos um pequeno levantamento em algumas plataformas, como Banco de Séries e TV Time, e parece que apenas em 2023 foram produzidas mais de 90 séries BL na Tailândia. É um número bem expressivo se você for comparar com 2014/2015 por exemplo.
[MATHEUS] E é muito interessante pensar que estamos falando apenas na Tailândia, porque há vários outros países produzindo séries BL. Além disso, também há uma enorme quantidade de outras produções que nem entra nessa discussão aqui, como filmes, novelas e diversos gêneros de ficção televisiva que só de imaginar a quantidade de conteúdo que tem disponível pra assistir, minha ansiedade já fica a mil, ainda mais com novas produções saindo todos os dias. Tenho percebido uma grande competição entre canais e produtoras para ver quem produz mais.
[ANDERSON] Há uma discussão sobre qualidade versus quantidade. Hoje, o número de produções de BL é um número muito grande porque ele parte de várias produtoras. A maioria dos BLs, pensando em nível de quantidade, não são produzidos por emissoras de TV. São produzidos por produtoras, que obviamente vendem um projeto para uma emissora. E o que passa é, os BLs de maior qualidade na produção, no roteiro, com os atores, na construção da história toda, esses obviamente vão ganhar o espaço na GMMTV, ganhar espaço no canal 9, no canal 3, ou seja, vão ganhar visibilidade, ou talvez vão para as plataformas. Só que, e os outros? Que são produzidos com baixo orçamento, como são às vezes um efeito sonoro do YouTube, uma galera atuando meio capenga, eles também estão aí pelas redes, também estão aí pelo YouTube. Como a gente vai equilibrar a quantidade de produção que está a rodo com a qualidade dessas produções? O mercado sacou: “ah, narrativa de BL é a receita de sucesso. Bora produzir? Bora produzir”. Mas não é bem assim, né?
Cê mencionou, Matheus, que é difícil escolher o que assistir com tantas produções disponíveis. Eu tenho 50 opções de série para assistir, já é uma dificuldade imensa escolher o que eu quero assistir. E eu vou começar a escolher a série que tem os atores que eu gosto, a série que muitas vezes já está no canal que eu estou acostumado a assistir… Porque os fãs são muito inteligentes, as pessoas tendem a olhar fã muitas vezes como se fosse alguém sei lá, tonto que não sabe a diferença de produção de uma AS Play ou não sabe a produção de uma GMMTV que não sabe avaliar qualidade de história, que não saberia avaliar qualidade de atuação… Se é fã, a pessoa sabe porque ela está consumindo. Por isso que é interessante falar da competência midiática dos fãs. Fã não é alguém estúpido, ou alguém que está recebendo o conteúdo de maneira passiva. Ele reflete, ele critica, ele negocia, mas ele também pode ter uma resposta negativa.
[MATHEUS] Cara, exatamente! E olha só a conexão, que bom que você mencionou esse ponto sobre fã. Por que estamos chegando ao final da primeira parte do episódio e para encerrar esse tópico, nos conte mais sobre você, o Anderson como fã. Você se lembra de qual foi o seu primeiro BL? E foi ele que mais te marcou ou existe algum outro?
[ANDERSON] Olha, minha aproximação com os BLs foi bem mais tardia. O primeiro BL que eu me lembro de assistir, que já é algo bem fora do… fora do escopo, porque as pessoas vão começar… Ah, eu não sei, vão começar com histórias mais famosas. Eu me lembro que eu fui assistir um primeiro BL, que eram três episódios que se passavam em Chiang Mai. Era tão pequenininho esse BL, e eu lembro que eu assisti já tem uns três anos, mais ou menos. Só que ele ficou tão louco na minha cabeça, de tanta obra que eu assisti, que não me marcou. Então eu não considero ele o meu primeiro. Ele foi o primeiro que eu cheguei, mas não o primeiro que eu gostei. Posso cortar ele? Então posso ir pro outro?
[MARIANA] Claro!! Pode falar sim.
[ANDERSON] Porque o que eu gostei foi Cute Pie. Foi o primeiro que eu considero assim, sabe? Que eu assisti e que eu gostei, que eu entendi a narrativa e percebi pela primeira vez a dinâmica de consumir uma história e gostar da história. Sabe o que a gente falou? Cara, por que eu não posso só assistir uma história, um romance, seja homoafetivo ou homoerótico, e curtir essa história? Então esse foi o primeiro que eu assisti, que me marcou. Só que hoje se eu fosse falar… A narrativa de BL que mais me marcou, eu acho que vai ser War of Y, a Guerra dos Y, porque é uma série metalinguística, cara. É uma série que mostra, é um BL que mostra os bastidores da indústria BL. Então eu acho que, assim, como fã, eu misturei na minha cabeça um pouco assim, fã pesquisador, ACAFAN, né? Eu acho que essa é a série que talvez seria hoje como a que mais me marcou.
[MATHEUS] Cara, que sensacional! E me lembrou muito aquela série “UnREAL”, que mostra os bastidores da indústria dos reality shows.
[MARIANA] Eu ia falar a mesma coisa!
Agora vamos para a parte mais divertida do episódio? Vamos começar com nossos quadros!
🎶 TOCA A VINHETA DO QUADRO “QUE BL EU SERIA?” 🎶
[MARIANA] Chegamos ao quadro “Que BL eu seria?”. Vamos te apresentar três sinopses de diferentes BL’s. E com base nessas sinopses, você deve escolher qual história acredita que mais reflete sua personalidade e seus interesses. Vamos lá?
[ANDERSON] Bora lá então!
[MATHEUS] Vamos lá, primeira sinopse: “A história gira em torno de Mes, um menino que morre aos 20 anos de idade, mas agora como um fantasma, ele vive preso ao plano terrestre vendo sua eternidade passar indefinidamente esperando que alguém o visite no cemitério, enquanto assiste seu túmulo se tornar algo precário e triste já que ele desconhece o motivo de sua morte. Em contrapartida, Thun, é um menino alegre e divertido que se depara com o túmulo malcuidado do nosso fantasminha e triste com a situação do túmulo ele começa a visitá-lo ano após ano. Mes descobre que Thun consegue vê-lo, e com isso Thun promete vir todos os anos visitá-lo. Entretanto as visitas de Thun param de acontecer devido a uma tragédia familiar. Anos se passam e finalmente os dois se reencontram e Thun decide ajudar Mes a descobrir o motivo de sua morte, nesse meio tempo eles acabam criando um vínculo tão forte e poderoso que faz com que os dois acabem se apaixonando. Mesmo pertencendo a mundos diferentes. Será que eles irão conseguir descobrir a verdade por trás da morte de Mes? E o mais importante, eles ficarão juntos?”
[MARIANA] Vamos para a segunda sinopse: “Desde jovens, os pais de Pran e Pat têm uma rivalidade profunda e violenta onde eles tentam superar um ao outro em tudo. Essa rivalidade também se estendeu aos seus filhos, onde eles fazem de tudo para comparar as conquistas e se gabar um na frente do outro. Era quase como se a rivalidade fosse passada como herança de família e os dois meninos estivessem destinados a ser rivais também. Até que… eles se cansam e se tornam amigos. Muito bons amigos por sinal. No entanto, por causa da rivalidade de seus pais, a amizade deles tem que ser mantida em segredo. E então começa uma jornada de amizade secreta… e quem sabe talvez um doce romance secreto?”
[MATHEUS] Agora a terceira e última sinopse: “Tine, um atraente líder de torcida na faculdade, está cansado de ser perseguido por um garoto que ele não gosta. Para resolver isso, ele elabora um super plano: fingir estar namorando alguém. E quem melhor para esse papel do que Sarawat, que é o cara mais atraente e popular da universidade? Só que é como diz aquele ditado, repita uma mentira muitas vezes e ela se torna verdade. Mas antes de alcançarem o “felizes para sempre” eles precisam encarar a realidade e admitir seus verdadeiros sentimentos, percebendo que não estão mais fingindo e, na verdade, nem querem mais fingir.”
[ANDERSON] Cara… Eu já até pensei aqui e a gente vai ouvindo a sinopse e a gente vai lembrando da narrativa de qual que é a história. Eu, se fosse pra pensar de volta, plano da imaginação. Eu preferia a sinopse, na qual eu trabalho com a ideia do plano sobrenatural e da reencarnação. Por quê? Porque quando você vai para uma narrativa que é: “ah, as famílias são brigadas e a gente pode ter uma amizade secreta, pode ter um romancezinho aqui e lá”, cara, a chance de isso dar M, de dar uma coisa complicada é muito grande. Ah, eu adoraria ser um fantasma, ainda que eu sofresse, eu poderia me livrar, poderia seguir adiante, inclusive encontrar alguém bonito no plano sobrenatural. Aquele que já mistura as histórias todas, né?
[MATHEUS] Cara, exatamente! São todas essas histórias, mas com uma pitada de fantasia… Realmente o melhor dos dois mundos! E, confessando aqui uma coisa… esse que você escolheu é o meu BL favorito de todos os tempos. É tão lindo que eu chorei horrores. E confesso que eu também adoraria viver nesse universo.
🎶 TOCA A VINHETA DO QUADRO “NÃO IMPERIALIZE!” 🎶
[MARIANA] Agora vamos para o nosso segundo quadro: “Não imperialize!”
[MATHEUS] É hora de colocar a nossa skin decolonial em teste! Vamos sair um pouco do tema principal do episódio, mas ainda vamos permanecer dentro da proposta do podcast. Aqui, vamos compartilhar alguns produtos que estamos consumindo atualmente, que não são do eixo EUA-Europa Ocidental.
[MARIANA] Sim! Pode ser qualquer produto cultural… Livros, séries, filmes, podcasts, álbuns… Eu começo!
Eu sou muito cadelinha do audiovisual brasileiro, inclusive meu tema de TCC foi relacionado a isso, então eu geralmente vou indicar produções nacionais por aqui. Minha primeira indicação é a série Pedaço de Mim da Netflix. De início ela foi anunciada como novela, mas acabou sendo lançada como série e ela possui 17 episódios. Ela foi escrita pela Ângela Chaves, que é uma autora super renomada de novela e realmente é um melodrama para deixar o Manuel Carlos orgulhoso! Eu ainda não terminei mas é muito viciante, os episódios tem um ritmo incrível que realmente te prendem e você não consegue parar de ver (é… eu vou ter que dar o braço a torcer para a Netflix porque realmente essa série foi um acerto e tanto).
Minha segunda indicação é a série Cangaço Novo, uma produção nacional lançada pelo Prime Vídeo em 2023 e que levou pelo menos 10 anos para sair do papel. É uma história tão ousada que os roteiristas, o Eduardo Melo e a Mariana Bardan, levaram anos para vender o projeto. São só 8 episódios e a segunda temporada já foi confirmada. Foi a minha série favorita do ano passado e uma das melhores que já assisti, é o tipo de produção que dispensa sinopse, acredita na minha palavra e só dá o play!
[ANDERSON] Eu comecei a ficar viciado, eu sei que isso não é o mais correto, mas a olhar para os true crimes do sudeste asiático e acho que agora inclusive talvez tenha lançado na Netflix um caso específico de uma jovem da Indonésia que matou a amiga com um café envenenado. Não sei se vocês já ouviram falar dessa história. Se vocês botarem aí, quem está ouvindo a gente coloca assim: “café envenenado indonésia”. Essa história é uma história tão surreal e tão emblemática de como a mídia trabalha com sensacionalismo, trabalha com temas mórbidos, mas desde uma perspectiva de volta, fora do eixo, né? O eixo mais, entre aspas, central, seria Estados Unidos ou o norte global, digamos. E eu comecei a me interessar por histórias de true crime que estão localizadas aqui na Ásia. E ver, por exemplo, não só as motivações dos crimes, mas ver também, por exemplo, a forma como a imprensa aborda.
Outra recomendação que eu tenho é o podcast brasileiro, podcast Rádio Novelo, Rádio Novelo: Apresenta, muita gente já conhece, outros não. Cara, se você quer, falando de imersão, se você quer entrar numa história de 30 minutos, 40 minutos que seja e se ver dentro dessa história com temáticas que vão desde o campo social até da curiosidade, até da farofa, muita coisa misturada. Rádio Novelo: Apresenta. É um podcast maravilhoso.
[MATHEUS] Olha a conexão novamente, Anderson! Eu vou seguir na mesma linha e vou recomendar um podcast imersivo chamado ‘Quanto Vale essa História?’. Ele é apresentado pela talentosa drag queen Bianca Dellafancy, e traz histórias enviadas pelos ouvintes narradas de forma envolvente e sensacional. Ele utiliza recursos sonoros que realmente te transportam para dentro das histórias. Todo dia, indo e voltando do trabalho, eu fico escutando e “rescutando” todos os episódios e até já passei inúmeras vergonhas no ônibus, chorando de rir sozinho. Ele é muito incrível!
E a minha outra recomendação é o kdrama ‘Parasyte: The Grey’… Sério, é simplesmente incrível. Eu fiquei até surpreso porque geralmente eu não sou muito de assistir os dramas coreanos, porque eles são muito românticos. E é até hipócrita da minha parte falar isso, já que a gente está aqui debatendo sobre BL, que são narrativas de romance, mas a diferença é que os kdramas são focados em romances heteronormativos. Eu sempre pergunto para Mariana: “Mariana, essa série que você me indicou tem algum gay? Tem alguma lésbica?” Porque senão eu não assisto. Mas, deixando as polêmicas de lado, ‘Parasyte: The Grey’ me conquistou de uma maneira sensacional… É uma mistura de terror, suspense e aventura que te prende desde o início do episódio. Sério, assistam! Está disponível na Netflix e tem apenas 6 episódios, dá para maratonar numa sentada só. Não tem desculpa!
🎶 TOCA A VINHETA DO QUADRO “EITA, ME PERDI NO PERSONAGEM!” 🎶
[MARIANA] Para finalizar, chegamos ao terceiro e último quadro! Como não somos de ferro… vamos falar sobre os produtos de países do eixo EUA-Europa Ocidental… Vamos dar um pouco de espaço para eles, coitados… tão negligenciados!
[MATHEUS] Cara, é a forte hegemonia cultural desses países que nos acostumou tanto a consumir esses formatos que muitas vezes nem questionamos por que nos limitamos a essas produções e não exploramos outras culturas. No entanto, a gente gostaria de deixar claro que não estamos sugerindo que consumir essas narrativas seja algo errado. O que queremos enfatizar é a importância do equilíbrio e da diversidade cultural.
[ANDERSON] Exato!
[MARIANA] Sim! Por que se limitar a consumir apenas a cultura de um país quando há tantos outros com conteúdos igualmente incríveis (e às vezes até melhores)?
[MATHEUS] E inclusive, às vezes, a gente acaba negligenciando as produções do nosso próprio país, em favor dessas produções estrangeiras.
[MARIANA] Eu mesma sou a maior militante dessa causa, quem me conhece sabe. Mas, enfim, não vamos nos alongar muito nesse debate porque daqui a pouco vamos estar cancelados em mais de 60 países (e estamos apenas no primeiro episódio). O que vocês têm para indicar aos nossos ouvintes?
[ANDERSON] Olha, uma série, vê se faz sentido a minha recomendação aqui. Pensando nessaideia de, “eita, me perdi na personagem”. Adorei o nome do quadro. Eu tenho uma série que se chama Corpos (Bodies). Essa série, eu acabei de finalizá-la num dia que eu não tive aula. E aí, em vez de estar fazendo uma atividade física e ser saudável, quem nunca, gente? Não me julguem, por favor! Essa série é uma série maravilhosa, é uma série britânica que se passa em quatro épocas. Um mesmo crime, ele acontece em 1890, algo assim, depois ele vai acontecer em 1940, depois em 2023, depois em 2053. O mesmo crime, o mesmo corpo, o mesmo cadáver, no mesmo lugar, tempos, épocas, pessoas ao redor que são diferentes. E aí a gente vai ver que tem matemática, obviamente de viagem no tempo, mas o que me interessa é a percepção dos detetives, porque um detetive específico de 1890, sei lá o que, obviamente, um homem, um homem branco, e o que ele vai lidar com seus problemas, com seus dramas, mas como ele vai olhar para esse crime. Quando a gente vai para 2023, a detetive já é uma mulher, uma mulher negra, asiática, não tenho ideia se ela é paquistanesa ou de Bangladesh, mas ela é do sul da Ásia e ela é… é uma mulher muçulmana, cara. E aí você vai ver outra realidade de como ela olha pra esse crime. Quando a gente vai para os anos 40, o detetive é um homem judeu, num período onde o nazismo tava ali, batendo a porta. E quando a gente vai para 2053, já é uma mulher com uma parte específica do corpo, que ela tem uma deficiência e tal, e ela é uma detetive. Então assim, cara, é uma narrativa que mistura linhas do tempo diferentes. Mas mais do que o mistério, que a gente não vai dar spoiler, mas o mistério vai ser resolvido ali, o que interessa é, no meu ponto de vista, a percepção de quem analisa o mesmo crime e como os recortes de gênero, de raça, de cor, influenciam na análise do mesmo crime. É algo incrível pra mim. Essa seria a minha recomendação do “me perdi no personagem”, me rendi ao norte global.
[MATHEUS] Cara, agora eu quero muito assistir essa série!
[MARIANA] Simmm! Eu também. Achei sensacional.
[ANDERSON] Às vezes acerta, né?
[MARIANA] Então, a primeira indicação é uma das minhas últimas obsessões que é The Bear. É uma série que já tava há anos na minha lista e eu finalmente assisti esse ano e realmente ela merece todos os elogios e premiações, é uma obra prima, principalmente a segunda temporada. Você fica com vontade de abrir o seu próprio restaurante e tem que se segurar para não chamar todo mundo de chef, virou realmente uma obsessão na minha vida. E agora finalmente saiu a terceira temporada no Disney+ então já tô doida para maratonar.
Minha segunda indicação é Starstruck, que não, não é o filme da Disney e sim uma série britânica que foi lançada em 2021. A premissa é quase a mesma do filme, mas com uma perspectiva totalmente adulta, uma mulher fica com um cara numa festa de ano novo e só depois descobre que ele é simplesmente um dos atores mais famosos da Inglaterra. A série só tem 3 temporadas com 6 episódios cada e os episódios são super curtinhos, com duração de 20 minutos mais ou menos. A criadora da série, a Rose Matafeo também roteirizou, dirigiu e protagonizou os episódios, ou seja, uma diva. Se você gostou de Fleabag você provavelmente também vai curtir essa comédia romântica que retrata com leveza e bom humor como uma relação a dois pode ser bem desafiadora.
[ANDERSON] Amei! Adorei.
[MATHEUS] Eu vou indicar a série ‘Fallout’, uma produção da Prime Vídeo baseada em um dos jogos mais famosos de todos os tempos. Sério, eu não conhecia nada desse universo até ter meu primeiro contato na CCXP do ano passado, e fiquei completamente encantado. O trailer já prometia muito, e a série realmente entrega tudo o que promete. É uma nova abordagem do apocalipse nuclear, com uma estética visualmente deslumbrante que mistura elementos dos anos 50/60 com tecnologia futurista. Sério, só assistam!
[ANDERSON] Uau, gente! Eu fiquei interessado
[MARIANA] Estamos chegando ao fim do episódio!
🎶 EFEITO DE PESSOAS TRISTES 🎶
[MATHEUS] Pois é. Infelizmente. Tava tão legal! Mas ainda temos vários episódios pela frente! É apenas o começo.
Anderson, eu gostaria de agradecer por você ter topado esse desafio e espero que você tenha gostado da experiência. Muito obrigado mesmo!
[ANDERSON] Gente, eu que agradeço vocês, agradeço principalmente a paciência, porque foi um pouquinho complicado a gente conseguir acertar o dia por vários motivos, mas um deles é a questão mesmo do fuso horário. A gente tem um horário, tem dez horas de diferença entre o horário do Brasil, horário de Brasília, melhor dizendo, e o horário aqui de Bangkok. Mas a parte disso tudo… Eu tô muito feliz porque eu tava sentindo falta disso, sabe? Da gente poder bater um papo sobre cultura pop, que não necessariamente seja somente dentro do campo acadêmico e que também não necessariamente seja somente naquela lógica de que cultura pop é nada de interessante ou nada de importante, é só a picuinha de famoso. Não! Encontrar esse caminho gostoso de falar de coisas que às vezes são profundas, sérias, muitas vezes pesadas. Mas, cara, desde um ponto de vista mais pop, com uma linguagem acessível, com temas acessíveis e com uma naturalidade que o BatePop está mostrado para a gente no primeiro episódio, que é algo que eu espero que continue com vocês, porque é isso que faz sentido na nossa pesquisa acadêmica. Pesquisa acadêmica tem variados tipos de pesquisa, variados níveis de profundidade, mas quando a gente fala de divulgação científica, quando a gente fala de comunicação da ciência… ou simplesmente comunicação entre pessoas da academia com pessoas de fora da academia, eu aposto muito nessa linguagem que vocês estão trazendo, sabe? Que é algo bem gostoso de fazer e algo gostoso de ouvir.
[MARIANA] Nós que agradecemos! Foi uma conversa maravilhosa, muito obrigada por tirar um tempinho para trocar com a gente! Mas antes de acabarmos, fala as suas redes para quem está nos ouvindo… Onde as pessoas podem te encontrar?
[ANDERSON] Agora estou me sentindo muito famoso. Vou divulgar minhas redes sociais aqui e minha agenda de shows pelo norte e sul do país. Imagina? Vocês podem me encontrar pelo @anderlopps. Lá, eu tenho links que direcionam para os artigos que já escrevi no Academia.edu. Vocês podem acompanhar um pouco da minha vida aqui em Bangkok, na Tailândia, e das minhas pesquisas, incluindo como os alunos da Tailândia se relacionam com a América Latina. Estou muito entusiasmado! Se quiserem conversar comigo pelo Instagram, podem me mandar mensagem, bora ser amigos e trocar figurinhas. E tô sempre aqui, precisando de mim é só chamar.
[MATHEUS] Vocês também podem nos encontrar no instagram (@batepop), e também no nosso site (www.batepop.com.br).
[MARIANA] Sim! A gente tá um luxo! E olha, lá no nosso site tem a descrição de cada episódio, fotos, curiosidades, um glossário com os principais termos que utilizamos aqui e um pouco sobre a nossa trajetória.
[MATHEUS] Obrigado por nos acompanhar nesse primeiro episódio e não esqueçam de fazer o esquema de pirâmide, ou seja, compartilhe esse podcast com o máximo de amigos possíveis. E se você estiver escutando esse episódio pelo spotify, não esqueça de nos avaliar com 5 estrelinhas. Isso ajuda muito o nosso engajamento e garante a produção de mais temporadas para vocês. Nos encontramos no próximo episódio! Até lá!
🎶 EFEITO DE TELEFONE DESLIGANDO E MÚSICA DE ENCERRAMENTO 🎶